TV Globo / João Miguel Júnior | | Cazuza é o tema do primeiro episódio da nova temporada | |
A trajetória de nomes que marcaram o cenário cultural brasileiro volta à cena em nova temporada de Por Toda Minha Vida, que a Rede Globo exibe a partir do próximo dia 19, sempre às quintas-feiras, logo após A Grande Família. Desta vez, o público poderá conhecer e relembrar as histórias de Cazuza, Raul Seixas e Claudinho, que fazia dupla com Buchecha. Apresentado por Fernanda Lima, o programa tem direção de núcleo de Ricardo Waddington e redação final de George Moura.
Baseado em fatos reais, Por Toda Minha Vida conta com uma estrutura que compreende dramatização, depoimentos de familiares e amigos, além de trechos de shows e reportagens. “O projeto nasceu de uma conversa e, aos poucos, chegamos ao formato de um 'docudrama'”, lembra Waddington. “O diferencial do programa é justamente essa mistura, um híbrido de documentário com novela, uma tendência que está presente em todas as televisões do mundo e tem inúmeras possibilidades”, avalia Moura.
Este ano, o programa concorre pela terceira vez ao Emmy International Awards na categoria "Programa de Arte". A primeira indicação veio com o especial dedicado à Elis Regina e a segunda, com a história de Nara Leão. Este ano, a vida dos Mamonas Assassinas colocou a atração novamente entre os finalistas. “A competição é dura, pois a seleção envolve mais de 50 programas de televisão de todo o mundo e nós estamos entre os quatro finalistas”, comemora o roteirista.
Cazuza
O jornalista Pedro Bial recorreu a uma música de Lobão para definir o lema de seu amigo Cazuza: “É melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez”. Eles se conheceram ainda garotos e cresceram divagando sobre o futuro: "Ou a vida é uma grande aventura ou não é nada!”, recorda Bial sobre as questões que debatiam, em uma época em que queriam revolucionar o mundo. A carreira do cantor, que gritou por uma geração que desconhecia a democracia, encantou, chocou e emocionou o país. Batizado Agenor de Miranda Araújo Neto, ele é o tema do primeiro Por Toda a Minha Vida.
O especial traz imagens de arquivo e depoimentos de amigos, familiares e profissionais que acompanharam de perto a carreira de Cazuza, entre eles Bial, Ney Matogrosso, Sandra de Sá, Bebel Gilberto, Roberto Frejat, Ezequiel Neves e seus pais, Lucinha e João Araújo. “A Lucinha Araújo abriu o baú dos seus arquivos para nossa pesquisadora Júlia Schnoor e lá encontramos coisas preciosas, como momentos de intimidade dele, comemorando um aniversário em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro”, conta Moura.
Filho do fundador da Som Livre, Cazuza sempre esteve cercado de artistas. Nunca ganhou um prêmio na escola, mas era criativo e dispunha de uma vasta cultura geral. Seus pais apostavam que seria jornalista e fizeram de tudo para discipliná-lo. “Eu o coloquei para trabalhar na área de imprensa para ter alguma responsabilidade”, conta João. Naquela época, o empresário não vislumbrava a carreira de cantor e compositor do filho. Foi preciso Guto Graça Melo, então diretor-artístico da Som Livre, e Ezequiel Neves, assistente deste, baterem várias vezes na sala de João para que ele ouvisse a fita de Cazuza cantando com o Barão Vermelho. “E era boa! Eu acabei sendo convencido a gravar”, diz João Araújo.
O grupo tocava rock em português e sucessos como “Todo Amor que Houver nesta Vida” e “Pro Dia Nascer Feliz”, que Ney Matogrosso lançou para todo o Brasil. “Finalmente as coisas começam a acontecer! A gente começa a ir para a estrada, começa a trabalhar. Todos nós muito garotos, imaturos, jovens”, lembra Frejat, guitarrista da banda.
O êxito do grupo foi, claro, enorme, assim como a exposição na mídia. Depois de um tempo, os conflitos se tornaram frequentes e Cazuza já não queria mais cantar apenas rock. “Fiquei conhecido como roqueiro, mas sempre tive uma paixão enorme pela Bossa Nova, por aquela coisa cult, intimista, pelo canto no pé do ouvido, aquela coisa íntima mesmo e resolvi gravar uma. Vamos ver. Está aí”, conta Cazuza em uma de suas entrevistas que 'Por Toda Minha Vida' mostra. Caju, como era chamado por seus amigos, foi considerado o poeta da rebeldia, da solidão e do amor. Era capaz de oscilar entre a doçura e a crueldade e, sem pudor nem meio-termo, escrevia versos que escancaravam os desejos de uma juventude que se libertava de vinte anos de ditadura. Sua música traduzia a angústia e a euforia de toda uma geração.
Separados, ele e o Barão Vermelho continuaram fazendo sucesso e, às vésperas de lançar o primeiro LP solo, “Exagerado”, a saúde de Cazuza se tornou cada vez mais frágil. A descoberta de que era soropositivo e todo o sofrimento que a doença acarretou não tiraram a intensidade e a ousadia do cantor. A partir daí, sua poesia passou a carregar a emoção de quem estava vivendo com novas perspectivas. “Eu comecei a me preocupar em ver o lado de fora da janela, em ver o coletivo”, disse na época em que escreveu músicas como “Brasil”, “Um trem pras estrelas” e “Codinome Beija-flor”.
Cazuza morreu aos 32 anos, mas foi cantando, sem se entregar, que passou pela doença e é lembrado até hoje. “Ele botou para quebrar. Foi uma vida intensa, mais rica do que a minha”, relata sua mãe Lucinha Araújo.
Fonte: Cultura
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